A função aleno -C=C=C- é uma função orgânica insaturada com
duas ligações duplas cumuladas, i.e.
com um átomo de carbono comum às duas insaturações, podendo ser classificado como
dienos cumulados. Desta forma, contém no mínimo três átomos de carbono, sendo
que o átomo central tem hibridação sp enquanto que os outros dois são sp2.
Desta forma, os alenos podem resultar da tautomeria de um derivado acetilênico
e apresentam reatividade química comparável.
Investigando a literatura, observa-se poucos fármacos alênicos,
provavelmente devido ao seu caráter eletrofílico que introduz uma grande
reatividade frente a nucleofilos biológicos, o que pode resultar em reduzida estabilidade
in vivo. Em contraste, este atributo molecular
pode indicar que a função aleno possa ser considerada um fragmento molecular
reativo, útil no desenho de candidatos a fármacos inibidores enzimáticos
irreversíveis, pela formação de ligações covalentes com nucleofilos seletivos.
A figura abaixo ilustra dois fármacos alênicos da classe dos análogos de
prostaglandinas modificadas.
O primeiro
derivado, denominado prostaleno, foi desenhado como um pró-fármaco éster
metílico do ácido correspondente, análogo de prostaglandina (PG) D6-(R)-15-metil-PGE2 descrito como fraco broncoconstrictor,
com propriedades contrácteis uterinas. Ensaios in vivo confirmaram este perfil
farmacológico sugerindo sua utilização como co-adjuvante na indução do parto. Foi licenciado para emprego veterinário
em diversos países, para utilização na sincronização do estro em fecundação
artificial de bovinos. O femprostaleno, surgiu posteriormente, visando otimizar
o perfil agonista de receptores de PGE (EP) no útero, adotando como estratégia
de proteção da hidroxila lábil ao metabolismo plasmático em C-15, a introdução
do fragmento molecular fenoxila em C-16, ao invés da metilação em C-15 conforme
feito no prostaleno. Desta forma, preservou-se a natureza secundária da
hidroxila de C-15, idêntica às PG´s naturais, mas introduziu-se um atributo
estérico, representado pela fenoxila em C-16, capaz de proteger a hidroxila em
C-15 da ação da enzima prostaglandina-desidrogenase (PGDH), principal agente de
desativação desta classe de icosanóides. Os resultados obtidos indicaram que os
objetivos desejados foram alcançados, havendo potencialização dos efeitos
agonistas EP mas não o suficiente para merecer autorização para uso humano.
Desta forma, ambos fármacos alênicos descritos são de uso veterinário,
autorizados em vários países.