Às vezes é muito bom revermos o que já lemos. Dependendo da motivação
que o fazemos, podemos ter boas e proveitosas surpresas. Vou contar uma destas,
que me ocorreu recentemente, motivado pela redação de nova edição (3ª) de meu
livro, em co-autoria com o Professor Carlos A. M. Fraga, meu Colega do LASSBioR, UFRJ.
Antes devo comentar alguns pontos
sobre a redação de uma nova edição de um livro científico com objetivos
definidos, que possam combinar motivação à leitura com atualidade e, ao mesmo
tempo, ser cientificamente rigoroso sem se tornar enfadonho. Acreditem. Esta não
é uma tarefa fácil, nem simples. Explico! Os desafios de uma nova edição são
distintos da primeira. As decisões de conteúdo são mais simples de serem
tomadas naquela, pois existem tópicos clássicos da disciplina, em que se situa
a obra, que não podem faltar. O desafio compreende incluir-se na primeira edição
– aliás, nunca se sabe se é a primeira, até que venha a segunda! – aspectos
originais que justifiquem a obra (senão será apenas “mais uma”). Haja
criatividade! Numa segunda edição, cumpre ao(s) autor(es) dedicar-se mais pela
atualização da obra, completando-a face ao estado da arte. Não é muito
complicado decidir o que se deve incluir, mas, ao contrário, é imperioso
determinar o que se deve retirar, poupando-se valioso espaço para novo conteúdo.
Todos concordarão comigo quando disser que em sua esmagadora maioria os livros
científicos de sucesso, têm em suas mais novas edições, sempre, “algumas
gramas” a mais do que as edições iniciais, não? Vou usar este argumento para
justificar o que afirmei sobre a dificuldade de se retirarem algo eventualmente
mais supérfluo, presente numa edição anterior. Para que não haja sacrifício de
conteúdo, acredito que basta incluir uma citação bibliográfica adequada
referente ao tópico excluído. Mas concordo, ainda assim não é fácil.
Mas então? E os fármacos? Afinal esta é a temática deste blog. Como se trata de um livro de Química Medicinal, disciplina que se
dedica aos fármacos, penso estar coerente. E aí chego ao ponto que queria
chegar! Vejam bem, a inclusão de novos capítulos para a terceira edição do
livro foi definida. Assim as lacunas anteriores ficarão menores e o conteúdo
poderá estar mais atual. Afinal, todos os dias nascem novos fármacos e alguns
são fantasticamente inovadores. Esta
afirmativa, aparentemente simples, deixa de sê-la quando indagamos se os
critérios adotados para determinar uma inovação “fantástica”, estão adequados e
suficientes. Temos de procurar excluir os aspectos mercadológicos que
caracterizam um fármaco classificado como blockbuster,
até porque só se detecta com algum tempo de uso clínico. A questão é definir os
critérios para determinar ou prever uma inovação
fantástica, antes dela vir a ser um blockbuster.
Até porque os especialistas afirmam que “a Big
Pharma superou a síndrome do blockbuster...!”
Então, talvez por isso fui ler alguns antigos artigos, e outros novos também,
tratando sobre a inovação radical em
fármacos. Ao lê-los percebi novos ângulos não considerados em leituras
anteriores. Não significa que estas leituras anteriores tenham sido menos
cuidadosas ou mais superficiais. Não é isso! A questão em meu ponto de vista é
a motivação. Uma coisa é ler para aprendermos, outra é ler para se obter
respostas. Muda tudo! Mas observei que os exemplos marcantes que sempre considerei
como autênticas inovações fantásticas são também aqueles de vários outros
pesquisadores e também de clínicos especialistas. É o caso do propranolol, da
cimetidina, do captopril, do celecoxibe, do indinavir, da sinvastatina e, mais
recentemente, do imatinibe. Estes são de fato inovações fantásticas! Agora nos
falta definir entre os fármacos lançados recentemente aqueles que podemos
considerar assim. Esta missão não é tão simples e como temos tratado nas
últimas postagens de vários novos fármacos elegeremos, como inovações “destacadas”,
cabíveis de futuro rótulo de fantásticos,
aqueles que atuam através de mecanismos farmacológicos de ação novos. Este será
um bom critério, talvez, excluindo-se os fármacos me-too´s.
Obrigado por lerem!