Pesquisar este blog

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Mais inovação terapêutica recente: gliflozins, uma nova classe de fármacos antidiabetes tipo-2



         A questão da inovação terapêutica volta à tona e diversas recentes publicações em prestigiosas revistas científicas registram os fortes sinais de recuperação da Big Pharma, que teve, em 2012, 33 novas aprovações pela agência regulatória norte-americana (Food and Drug Administration; FDA), alcançando os índices de 2003. Lendo uns e outros autores, aqui, ali e acolá, tenho observado que há uma grande redundância no pipeline das grandes empresas farmacêuticas que inventam fármacos. Assim é quase como um modismo, do tipo: “se eles fazem, nós também temos de fazer” que podemos entender a convergência de esforços de diferentes empresas farmacêuticas por uma mesma abordagem, para identificarem novos fármacos para determinada indicação terapêutica. Vários são os exemplos, nesta nova classe terapêutica, dos esforços de pesquisa da indústria farmacêutica realizados por   associações ou contratos de joint-venture. As parcerias reduzem os prejuízos de cada empresa associada, em caso de eventuais insucessos, sobretudo em projetos considerados de maior risco e talvez comprovem a cautela que passou a nortear as atividades de pesquisa na IF.     

         Nesta vigésima segunda postagem vamos tratar de uma nova classe de fármacos desenvolvidos para tratamento e controle da diabetes tipo-2, com indicação de uso associada à realização de exercícios físicos com orientação profissional e dieta controlada. Trata-se dos inibidores do co-transportador de glicose e sódio 2 (sodium-glucose co-transporter 2; SGLT2), que representa um novo mecanismo farmacológico de controle da taxa de açúcar no sangue.
     Estes fármacos que podemos denominar gliflozins são autênticas inovações inovadoras, isso mesmo, “inovações inovadoras”, pois são substâncias inéditas, com fragmentos moleculares compreendendo subunidade tri-hidróxipirana conectada a um sistema benzílico substituído e atuam, no controle da glicose sanguínea, por mecanismo farmacológico de ação original. São, portanto, merecedores da redundância.  Esta nova classe terapêutica, ilustra muito bem uma das novas estratégias adotadas pela Big Pharma para a cadeia de inovação radical em fármacos, visando superar a recente crise diagnosticada por inúmeros e distintos especialistas. Estas ações de inovação aberta,  se fazem através alianças entre grandes empresas e, ao mesmo tempo, ilustram o acirrado nível de competitividade e rivalidade entre as empresas farmacêuticas que inventam fármacos inovadores. Para compreender bem esta realidade basta identificar a similaridade molecular existente entre os fármacos desta classe ilustrados na Figura.


      Se considerarmos as estruturas químicas do dapagliflozin e do empagliflozin, observamos uma similaridade molecular gritante, representada pela presença dos fragmentos tri-hidróxipirana, emoldurado por azul e do sistema benzílico funcionalizado (em laranja), além do anel fenoxílico para-substituído. A semelhança estrutural dentre estes fármacos cessa apenas na natureza do substituinte alquila do éter de fenol para-substituído (A) terminal, ressaltando-se que até o átomo de halogênio do sistema benzílico é o mesmo, nas mesma posição do anel. Todos os fármacos descritos na Figura, possuem elevada semelhança estrutural pois se observarmos o canaglifluzin, detectamos a presença de um anel tiofênico (B) conectado ao sistema benzílico substituído, isóstero do anel fenila presente no empaglifluzin, dapaglifluzin, tofoglifluzin e luseoglifluzin. No ipraglifluzin houve a fusão do anel tiofênico do canagliflozin com o grupo fenila substituído, resultando num anel aromático benzotiofênico. As demais variações estruturais nesta classe são singelas e sugerem que um grupamento farmacofórico desta classe, reside na unidade tri-hidróxipirana ou tri-hidróxi-tetraidro-2H-tiopirana, esta última presente no luseoglifluzin.   
         Outrossim, as estruturas químicas dos fármacos ilustradas na Figura, além de comprovarem a capacidade da IF em desenvolver me-too com extrema agilidade, atestam a adoção da estratégia de parcerias, pois o empagliflozin foi desenvolvido por uma parceria entre Boehringer Ingelheim e Eli Lilly e encontra-se em fase de estudos para aprovação de uso pelas agências americanas e européias. Por sua vez, o tofoglicofluzin foi resultado de associação entre a empresa japonesa Chugai e a Sanofi, enquanto que o ipraglicofluzin, rivalizando com todos, é resultado de parceria entre Astellas e Kotobuki Pharmaceutical e teve seu dossiê depositado para apreciação pelas agências européia e japonesa, em março de 2013.
         Em novembro de 2012, foi aprovada na agência regulatória européia o dapagliflozin (ForxigaR), também desenvolvido em parceria desta feita entre AstraZeneca e Bristol-Myers Squibb. Apresentando efeitos adversos  que favoreciam infecções genito-urinárias, pancreatite e maior risco cardiovascular (CV), este primeiro inibidor de SGLT2 foi rejeitado pelo FDA, por falta de segurança em seu uso. Entretanto, em 29 de março de 2013, esta agência regulatória aprovou o canagliflozin (InvokanaR), desenvolvido pela Janssen/J&J que representa o primeiro fármaco desta classe aprovado pela agência norte-americana como autêntica inovação terapêutica capaz de melhorar a condição de milhões de pacientes com diabetes tipo-2,  doença crônica que pode trazer severas complicações provocadas pela elevação da taxa de açúcar no sangue, tais como lesões renais ou do sistema nervoso central, além de cegueira e eventuais danos cardíacos.
         Obrigado por lerem.