Pretende-se tratar de temas, opiniões, e comentários sobre a Ciência dos Fármacos, seu uso seguro e benefícios à sustentabilidade e qualidade de vida. Privilegiaremos, sempre que possível, aspectos relativos à história da descoberta/invenção (drug discovery - DD) de fármacos, contributivos à formação contínua em aspectos, princípios e fundamentos da Química Medicinal, como disciplina central do processo de DD.
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terça-feira, 25 de abril de 2023
Promovendo a descoberta de fármacos...
domingo, 2 de abril de 2023
Sobre a intuição e a serendipidade em Drug Discovery (DD)
Há algum tempo, trouxe aqui uma conversa
sobre a importância da intuição no processo de inovação terapêutica radical. De
fato, procurei me inteirar sobre os eventuais impactos promovidos sobre o
processo de Drug Discovery (DD), especialmente no desenho molecular de
agentes terapêuticos de diferentes classes agindo por distintos mecanismos
farmacológicos de ação. Curiosamente, esta postagem datada de 09 de junho de
2019 (Link), intitulada
“Intuição em Química Medicinal”, originou uma publicação - Chemical
Intuition in Drug Design and Discovery-
na revista Current Topics in Medicinal Chemistry, 19, (15),
1679-1693 (2019) (DOI) que
procurava identificar a motivação da decisão dos químicos medicinais em momento
anterior ao avanço da estratégia de desenho molecular baseado na estrutura do
alvo terapêutico (SBDD – structure based drug discovery) quando, por
exemplo, o grupo de pesquisadores liderados por Black e Ganellin identificaram
a estrutura privilegiada da imidazola como anel central diaza aromático da
cimetidina, em analogia ao ligante natural dos bioreceptores histaminérgicos do
sub-tipo 2. Na mesma linha e talvez mais intuitivo ainda, tenha sido a eleição do anel central substituído
do indol no desenho da indometacina, por Shen e colaboradores nos laboratórios
Merck-Sharp Dohmme (MSD), como o primeiro agente anti-inflamatório
não-esteroidal (NSAI) atuando como inibidor da ciclooxigenase-1, da classe dos
ácidos heteroarilacéticos substituídos. Não foi que pela intuição de Bruce
Roth, instigada por sua experiência doutoral na síntese de derivados pirrolícos
polisubstituídos, que a equipe dos laboratórios Warner-Lambert incluíram este núcleo
na atorvastatina, agente antilipêmico primeiro-da-classe das estatinas, inibidores
da 5-HMGCo-A redutase, que foi o fármaco mais vendido mundialmente na história.
Estimam os especialistas que este fármaco, recordista mundial em vendas, proporcionando
ca. US$ 125 bilhões de dólares à Pfizer, durante o período de proteção
patentária esgotado em 2011, ano em que seu faturamento foi de US$ 11 bilhões.
Nesta postagem procurei confrontar os termos intuição versus serendipidade, através fármacos que considero consensual admitir serem mais relacionados a cada um, onde a penicilina ilustrou a serendipidade e a atorvastatina, cimetidina e indometacina, fármacos aza-heterocíclicos sintéticos, a intuição, i.e. intuition-based drug discovery (IBDD). Por fim, considero que teremos mais exemplos de serendipidade em fármacos relacionados aos produtos naturais, enquanto a abordagem IBDD se relaciona mais aos fármacos sintéticos.
Obrigado por ler.
1. Para uma revisão atual dos
avanços observados nesta classe de medicamentos, sob o olhar da Química Medicinal, veja: L M Lima, B
N M Silva, G Barbosa, E J Barreiro, β-lactam antibiotics: An overview from a medicinal
chemistry perspective, Eur J Med Chem 2020, 208, 112829; DOI:10.1016/j.ejmech.2020.112829.
quinta-feira, 9 de março de 2023
Sobre o ”efeito metila” na Química Medicinal, 10 anos depois....
As publicações científicas refletem a produtividade que se pode aferir
de pesquisadores, individuais ou por grupos de pesquisas. Está métrica de
produção, pode ter um olhar quantitativo e qualitativo. O número absoluto
determina a medida quantitativa, enquanto que o seu conteúdo, pode ser obtido qualitativamente,
pela determinação de quantos outros pesquisadores se interessaram pelo artigo,
representando o índice de impacto daquela publicação, viz-à-viz a comunidade
científica. Desta forma, cada pesquisador, autor de um artigo, pode retraçar os
caminhos feitos pelos olhares dos pares sobre sua própria produção científica.
Eu estaria faltando em franqueza, se não registrasse que é muito possível que
um autor de várias publicações científicas possa ter preferências confessas
para com algumas. Dentre as preferidas, haverá aquelas que ainda são de maior
destaque. Minha primeira publicação, de lá dos idos de 1973, na Revista
Brasileira de Farmácia, da Associação Brasileira de Farmacêuticos
(ABF), descreveu o conteúdo de uma breve revisão bibliográfica sobre a síntese
estereoespecífica de olefinas, realizada enquanto era aluno de mestrado em
Química de Produtos Naturais, do Centro de Pesquisas em Produtos Naturais
(CPPN), da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Aliás, é válido registrar que naqueles tempos, as editorias das publicações
nacionais eram bem flexíveis quanto às suas exigências, sendo possível
apresentarem-se estruturas químicas desenhadas, sem a obrigatoriedade do uso de
templates.
Dentre minhas publicações de preferência, encontram-se algumas com os
melhores índices de citações como, por exemplo, “The methylation effect in
medicinal chemistry” (Figura 1), publicada em 2011, no Chemical Reviews (111, 9, 5215-5246, 2011) da American Chemical Society (ACS), que tem nesta data ca. 616 citações,
das 16.122 acumuladas por todas minhas publicações até hoje. Este artigo
evidenciou-me a importância da citação como índice do impacto que a leitura por
pares trás para valorizar uma publicação, assim como também evidenciou-me a
relevância de quem o citou. Me explico: uma forma possível de ampliar a credibilidade
científica da publicação e representar um mecanismo efetivo para sua promoção e
ainda, por sua vez, ampliar o ciclo virtuoso que pode se criar em torno dela, é
ter sido citada por pesquisador de prestigio na área, em boa revista científica.
Por estas e outras tantas razões, esta
publicação – o efeito da metila em Química Medicinal – sempre foi uma de minhas
preferidas, mais ainda quando foi tema do seminário de abertura do Programa de
Webináios do LASSBio 2023, apresentado, brilhantemente, na tarde de 06 de
março, pelo Professor Carlos Alberto Manssour Fraga. Nesta tarde tive o
privilégio de assisti-lo, em regime remoto, testemunhando uma versão “nova” do
artigo, formatada para ilustrar sua importância ao olhar do Químico Medicinal
moderno. Neste objetivo, foi o Professor Manssour muito feliz, como o fora em
todos os outros pontos tratados no webinário, ao enfatizar, através da
bibliografia apresentada, aspectos específicos que a introdução de um
grupamento metila pode trazer a uma molécula em termos da atividade terapêutica
e de algumas de suas propriedades físico-químicas, farmacocinéticas e
farmacodinâmicas, além da possível interconversão de grupos funcionais (e..g.
ácido a éster; álcool primário a éter alquilíco, entre outros). Um aspecto
interessante que foi ressaltado naquele webinário, disse respeito ao fato de
que foi esta publicação a primeira realizada por pesquisadores fluminenses no
ACS-Chemical Reviews, outros aspectos que merecem destaque são que ca. de 30%
das citações desta publicação, tenham ocorrido em artigos do Journal of Medicinal
Chemistry e que, na maioria dos casos, nossa revisão tenha sido usada como background
para os trabalhos publicados.
domingo, 5 de fevereiro de 2023
Química Farmacêutica Medicinal - Conhecem?? É o nosso novo livro!!!
sábado, 28 de janeiro de 2023
Sobre minha palestra "A Química Medicinal e eu..." na XXIX EVQFM-EB (26.01.2023) - Parte 1
Salve pessoal!
Olá, estou começando uma série de postagens sobre esta minha palestra
A química medicinal e eu...Pretendo ir detalhando-a em 3-4 partes, para complementar o que não deu prá colocar na fala!
Aguarde!!
Saudações e abraços,
Obrigado por ler!!!
sexta-feira, 20 de janeiro de 2023
Sobre o Pavlovid®, medicamento anti-SARSCo-V-2 desenvolvido em 2021
O complexo processo de descoberta/invenção de novos
fármacos (drug-discovery – DD) é dependente de interações
multidisciplinares, onde sobressaem a Química Medicinal e a Farmacologia.
Outras disciplinas como a Química Computacional e a Farmacologia Molecular,
aliadas a técnicas de inteligência artificial onde várias abordagens são
capazes de modelarem sistemas biológicos complexos como entende-se ser o
processo de DD.
Em
meados da década de 80 do século passado, iniciaram-se os estudos de modelagem
molecular aplicados à descoberta de fármacos, quando dois paradigmas principais
ocupavam a cabeça dos Químicos Medicinais de então. A identificação de
compostos com propriedades atraentes como fármacos, se dava a partir da
abordagem que veio a ser denominada desenho de fármacos baseado na estrutura
química do biorreceptor (SBDD, do inglês: structure-based drug discovery)
ou em contraste a esta, aquela baseada na estrutura do substrato natural ou do
agonista do biorreceptor (LBDD, do inglês: ligand-based drug discovery).
A partir daí outras siglas surgiram, referindo-se a ajustes finos destas acima mencionadas,
como FBDD, referindo-se a abordagem de fragmentos moleculares (do inglês: fragment-based
drug discovery). Considera-se como fragmento molecular, estruturas ou subestruturas
químicas com até 300 Da de massa molecular, que podem ser utilizados combinando-se
técnicas in sílico ou in vitro, fazendo-se estudos de ancoragem virtual (virtual
docking) e mesmo determinando constantes de afinidades (Ki),
para vários possíveis alvos terapêuticos. Inúmeros autores têm descrito resultados
da aplicação destas estratégias para a identificação de autênticos e inovadores
compostos protótipos de novos fármacos. Na sequência deste processo de DD, a
otimização das propriedades físico-químicas, através da introdução de novas
modificações moleculares racionais, capazes de ajustarem de maneira adequada a
fase farmacocinética destes protótipos, podem, após bioensaios precoces de
toxicidade aguda (e.g. cardiotoxicidade), subsidiarem a etapa de importantes tomadas
de decisão sobre o prosseguimento ou não (em inglês: go-no go), dos
estudos com uma dada molécula candidata a fármaco.
A
descoberta do Pavlovid®, resultou
da combinação de dois anti-virais: nirmatrelvir (PF-007321332; Pfizer) com ritonavir
(Norvir®, AbbVie;). O primeiro surgiu na Pfizer pela otimização molecular de
uma substância inédita de propriedade da empresa, desenvolvida para combater a síndrome
respiratória aguda e severa provocada por coronavírus (SARS-C) enquanto o
segundo, que foi desenvolvido como um inibidor de protease do HIV e tem sido
bastante estudado inclusive quanto a diferença de absorção demostrada entre
formas farmacêuticas orais distintas, devido a existência de polimorfismo conformacional
que afeta sua biodisponibilidade. Este novo medicamento Pavlovid® é um exemplo marcante da capacidade criativa dos
químicos medicinais contemporâneos, hábeis em conciliarem e ajustarem as técnicas
disponíveis para o desenho e modificações moleculares de compostos candidatos a
novos fármacos, com surpreendente presteza sem prejuízos à segurança do uso.
Resultados
disponíveis na literatura científica, indicaram o benefício do emprego do
Pavlovid® no combate à Covid-19, inclusive em pacientes com
diagnóstico positivo recente.
Obrigado por ler.
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Leitura
complementar:
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Para um
post do autor sobre o assunto em: Blog “De fármacos e suas descobertas”,
intitulado “Nirmatrelvir, anti-viral com indicação para o SARS-CoV-2”, datado
de 28 de dezembro de 2021, vide: http://ejb-eliezer.blogspot.com/2021/12/nirmatrelvir-anti-viral-com-indicacao.html
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Kempf DJ, Sham HL, Marsh KC,
Flentge CA, Betebenner D, Green BE, et al. (February). "Discovery of
ritonavir, a potent inhibitor of HIV protease with high oral bioavailability
and clinical efficacy". Journal of Medicinal Chemistry, 1998, 41 (4): 602–617. doi:10.1021/jm970636