Pensando em vinte
e cinco edições seguidas, ano após ano, não nos damos conta que se trata de um
quarto de século, em tempo. Não me parece pouca coisa, termos cumprido meta de tamanha
responsabilidade, no contexto da formação em Química Medicinal de jovens
brasileiros de diversas regiões de nosso País. Calculo que tenhamos tido ao longo destes 25 anos,
em torno de 3000 inscritos, nas edições da EVQFM, até aqui. Me ocorreu que nas últimas
edições tínhamos muitos inscritos mais jovens que a própria EVQFM! Esta
constatação tem grande significado, pois reafirma o privilégio e ressalta a
responsabilidade em sua realização, sempre promovida pelo Laboratório de
Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas (LASSBio), hoje no Instituto de
Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Tendo ficado à
frente da Coordenação Científica destas 25 edições anuais da EVQFM do LASSBio,
entendi que era o momento de encerrar esta contribuição à Química Medicinal
brasileira e passar o bastão, conforme já mencionei aqui. Na próxima 26ª edição,
sua coordenação estará sob a responsabilidade do meu Colega e amigo, Professor
Carlos Alberto M. Fraga, que alternará, anualmente, com a Professora Lídia
Moreira Lima, a Coordenação das edições por muitos 25 anos seguintes.
Nesta
26ª contribuirei com um curso-curto (5h), dedicado a uma das estratégias da
Química Medicinal de desenho ou modificação molecular que mais gosto: o
bioisosterismo! Estou trabalhando com afinco em sua preparação, há algum tempo já.
Neste período de organização e seleção de exemplos, buscando os mais completos e didáticos, sempre zelando
pela máxima aderência ao tema, tenho tido a oportunidade de ler e reler, numerosos
e variados artigos sobre o tema, rastreados nas principais revistas científicas
de Química Medicinal (e.g. Journal of Medicinal Chemistry, European
Journal of Medicinal Chemistry, Bioorganic Medicinal Chemistry Letters,
Bioorganic Medicinal Chemistry). Pude constatar, nestas leituras e
releituras, que alguns dos exemplos clássicos que incluímos, nas primeiras revisões
sobre o tema, feitas com a Professora Lídia M. Lima (LASSBio), em 2005, no Current Medicinal
Chemistry e, mais recentemente, em 2017, em Comprehensive Medicinal Chemistry III, continuam
sendo necessários mencionar, mesmo nas versões atualizadas do tema, como este próximo
curso-curto da 26ª EVQFM, em 2020. Esta observação, faço para fundamentar
minha constatação de que em 25 anos da EVQFM, a Química Medicinal, como
esperado, evoluiu enormemente, podendo dizer-se que se afastou do tempo dos
ensaios fenotípicos, quando descobriu-se fármacos decisivos de fantástico
impacto terapêutico (e.g. propranolol), para o processo racional de
desenho e descoberta de novos fármacos (e.g imatinibe). Nesta trajetória,
a tarefa da Química Medicinal de inventar novos fármacos, incluiu inúmeros
instrumentos tecnológicos, aprimorou técnicas multidisciplinares, tornando-as uteis
ao planejamento racional de novos arcabouços moleculares originais, que
resultaram em novos fármacos inovadores terapeuticamente.
Em 25 anos da
EVQFM (1994-2019) foram autorizados pela agência regulatória norte-americana, Federal
Drug Administration (FDA), 631 novas entidades químicas para uso
terapêutico, entre 1994 e 2018, prevendo-se, segundo especialistas (A Mullard,
Nature Rev Drug Discov. 2019, 18, 85) mais ou menos 35 novos
fármacos em 2019, o que totalizará ca. 666 novos fármacos no período. Considero
este argumento convincente para ilustrar o dinamismo da inovação em fármacos, e
da Química Medicinal, mas o surgimento de inúmeros novos termos no seu vocabulário,
desde a primeira edição da EVQFM, também o reforçará. Por exemplo, lá nas
primeiras edições da EVQFM não se conhecia o princípio de “estruturas
privilegiadas”, nem o de “scaffold hopping” (este último ainda insuficientemente
definido), mas adotava-se o bioisosterismo como estratégia de desenho
molecular. Isso não o faz ultrapassado, mas ao contrário realça sua importância
histórica e no curso-curto da 26ª EVQFM que ministrarei, tentarei convencer
os participantes que o escolherem de seus aspectos contemporâneos.
Obrigado por lerem.