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sábado, 5 de março de 2016

Os elementos químicos e os fármacos: o boro

     Atingimos a quinquagésima primeira postagem e preciso fica evidente que temos que ter “uma boa ideia” para celebrá-la. Elegi o tema dos fármacos com átomos de boro. Digamos, compostos organoboro bioativos, pois não são muito numerosos, ao contrário e facilitam a tarefa. De fato, o boro não é um elemento muito assíduo nas moléculas dos fármacos, quiça por possuir propriedades particulares, devido à sua localização na tabela periódica. Não forma compostos com o B sendo um octeto de elétrons. Possui a ligação C-B polarizada, em virtude da diferença de polaridade entre os átomos de C (2,55) e B (2,05), produzindo os compostos organoboro estáveis, mas facilmente oxidáveis, com o átomo de boro sendo um sítio eletrofílico.
     Os fármacos, segundo inúmeros autores possuem, em geral, não mais do que 7 elementos presentes em suas moléculas: C - pois em esmagadora maioria são compostos orgânicos - H, O, N, S e com menor frequência Cl e F. O B foi embora desta lista desde sempre.
Preparando material bibliográfico para esta postagem, lembrei-me de um recente artigo (2015) publicado no Chemical Reviews da American Chemical Society, intitulado Recent Developments in the Chemistry and Biological Applications of Benzoxaboroles, de autoria de Agnieszka Adamczyk-Woźniak, Krzysztof M. Borys e Andrzej Sporzyński, da Faculdade de Química da Universidade Tecnológica de Varsóvia Polônia: Chem Rev 2015, 115, 5224. Foi um ótimo ponto de partida e devo dizer que li muito e, portanto, aprendi bastante.
     São muito poucos os fármacos já aprovados que contém B, sendo o melhor exemplo para ilustrá-los o bortezomibe (PS-341; VelcadeR), com indicação para o tratamento do mieloma múltiplo, atuando sobre proteosoma que modula o processo apoptótico, ativando-o. Este fármaco é um representante dos ácidos borônicos, funcionalizados e foi desenvolvido nos laboratórios de pesquisa da empresa biotecnológica MyoGenics/ProScript, em 1995, EUA. Esta empresa originou-se na Universidade de Harvard e posteriormente cedeu os direitos do composto para a Millenium Pharmaceuticals, que o lançou em 2008, após aprovação do FDA para esta indicação terapêutica. A base racional do seu desenho molecular indica que se origina de um dippetídeo N-protegido que pode ser representado como pirazinil-Phe-BLeu, derivando do ácido pirazinóico, fenilalanina e leucina, substituído por um radical ácido borônico ao invés do termino carboxílico, típico.
Inúmeros compostos organoboro, pertencentes às classes dos ácidos borônicos ou benzoxaborolícos estão sendo estudados, em vários laboratórios para eventual uso no tratamento de diversas doenças, como psoríase, diabetes, infecções bacterianas e virais, Chagas e malária
 

     Muito obrigado por lerem.