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sábado, 13 de fevereiro de 2016

Leitura Pós-carnaval: Os fármacos blockbusters.


     Chegamos a quinquagésima postagem! Parece natural, partindo da primeira postada em 07 de abril de 2011. Entretanto, devo dizer que para manter este blog, mais ou menos dinâmico, com ao menos uma nova postagem a cada 3-4 semanas, respeitando sua temática, não é uma tarefa trivial. Assunto não falta, pois me considero um aluno aplicado e disciplinado que mantém sua leitura sempre em dia. Afinal é um enorme privilégio, como já disse alguém, ser um eterno aprendiz! Portanto, nada mal chegarmos a esta quinquagésima postagem, nestes quase cinco anos do blog.
     O tema deveria ser especialmente festivo, mas mudei minha perspectiva ao aproveitar este feriadão de Carnaval-2016, acrescido de uma quinta e uma sexta-feira “facultativas”, lendo “Blockbuster Drugs: the rise and decline of the pharmaceutical industry” (ISBN 978.0.19.973768.0), autorado pelo Dr Jie Jack Li e  editado pela Oxford University Press, em 2014. Muito informativo e instigante, este livro descreve a época dos blockbusters na indústria farmacêutica, que inventa fármacos. O autor trabalhou 15 anos em empresas farmacêuticas com experiência em grandes Big-Pharmas como Pfizer e Bristol-MeyersSquibb (BMS), tendo tido uma experiência pós-doutoral em Harvard, com o Nobelista E.J. Corey e hoje está ocupando um cargo de Professor Associado na Universidade de San Francisco, EUA. A mim muito me agradou a leitura, estimulada pelo estilo fluente do autor. Considerando que tem muitos “causos” sobre a descoberta de fármacos que romperam a barreira do US$ 1 bilhão em vendas anuais, desde a cimetidina, primeiro blockbuster “nascido” em 1975,  decidi comentá-lo nesta quinquagésima postagem, pois a afinidade com nossa temática deste blog é nítida.
     Dentre os blockbusters tratados no livro encontramos os antagonistas seletivos dos sub-tipos 2 dos receptores histaminérgicos, representados pela cimetidina, já mencionado e a ranitidina. Na mesma indicação terapêutica temos os inibidores da “bomba-de-próton” (H+, K+-ATPase), representado pelo omeprazola e muitos outros com distintas indicações terapêuticas, como clopidogrel e celecoxibe, antitrombótico e anti-inflamatório, respectivamente. Interessante que o autor não trata do mais importante blockbuster da história dos fármacos, a atorvastatina, fármaco antilipêmico de maior sucesso mercadológico, mas dedicou-lhe um livro à parte: “Triumph of the heart: the story of statins”, que ainda não li.
A leitura deste livro reforçou ainda mais minha convicção de que os fármacos são exemplos extraordinários da importância da pesquisa científica realizada nas universidades, para lograr-se chegar a uma inovação terapêutica de sucesso. Um ótimo exemplo da translacionalidade da Ciência, com reflexos espetaculares na nossa qualidade e expectativa de vida. Pelo menos ao norte da linha do Equador.... Hélas!
    
     Inúmeros blockbusters “nasceram” a partir da academia, coroando os esforços de pesquisas de inúmeros pesquisadores de diferentes áreas. Sem querer ser exaustivo, menciono alguns: pregabalin (LyricaR), descoberto pelo Professor Richard Bruce Silverman da Northwestern University, EUA, indicado para controle da epilepsia e da dor neuropática diabética, comercializado pela Pfizer. A título de comentário, cabe menção ao fato de que naquela universidade foi criado, em 2009, um laboratório de ciências biomédicas denominado “Silverman Hall for Molecular Therapeutics & Diagnostics”, construído por uma doação do Professor SIlverman, resultante de parte dos royalties do LyricaR. Outro exemplo ilustrado no livro, refere-se à descoberta da emtricitabina (EmtrivaR) pelo Professor Dennis C. Liotta da Emory University, EUA, fármaco anti-HIV comercializado pela Gilead Sciences. Aproveito para incluir a informação de que atualmente o Professor Liotta, além de Editor-Chefe do ACS Medicinal Chemistry Letters, lançado em 2009, foi responsável pela descoberta do sofosbuvir (SovaldiR), um tremendo blockbuster comercializado pela mesma empresa farmacêutica para tratamento da hepatite-C, que atingiu, em 2014, o montante de US$ 10,3 bilhões em vendas mundiais e foi autorizado pela Anvisa para uso no Brasil, em março de 2015!

     Outros exemplos poderiam ser incluídos aqui, mas não quero aborrecê-los demais!
     Muito Obrigado por lerem.