Nesta nossa quadragésima sexta postagem vou tratar de algo
que me tem provocado intensa reflexão, recentemente. Refiro-me à qual deve ser
a missão primordial da Química Medicinal,
propriamente dita! Talvez redundância
se faça necessário para reforçar o sentido do que pretendo dizer.
Assim sendo, resto-me ao ponto
principal: sem Química Medicinal não
é possível inventarem-se fármacos! Melhor: os novos fármacos passam, indelebilissimamente
(i.e. mais do que obrigatoriamente), pela
Química Medicinal. Aquela propriamente dita! Aquela que tem Química! Aquela que compreende o destino do fármaco,
enquanto princípio ativo (PA) do medicamento na biofase. Aquela que antecipa as razões moleculares dos efeitos terapêuticos desejados,
dose-dependentes, ao mesmo tempo que entende as distintas contribuições moleculares
de todos os fragmentos presentes na molécula do PA. Aquela que racionaliza, antecipadamente, os riscos moleculares
associados a presença no PA de subunidades estruturais com propriedades químicas
favoráveis à farmacocinética adequada e desprovidas, se possível, de toxicidade.
Aquela que a partir daí pode intervir
modificando racionalmente a estrutura química para otimizá-la, quanto a sua druggability. Estas “aquelas” é a Química Medicinal, propriamente
dita!
Não
foi por nenhuma outra razão, além da defesa destes fundamentos, que quando consultado,
recentemente, pela Divisão de Química Medicinal da American Chemical Society,
em enquete feita com todos os seus membros ativos, sobre a troca de nome da
Divisão, opinei pela manutenção de Química
Medicinal!
Não me entendam mal! Não esqueci que a invenção de
novos fármacos não é uma tarefa individual possível. Precisa-se de uma equipe multidisciplinar
de profissionais com habilidades científicas complementares, harmonicamente
organizados, articulados, sintonizados e imbuídos de objetivo comum: o novo
fármaco! Entre estes profissionais, o Químico
Medicinal é indispensável!
Almeja
o nosso País ser um player na inovação em fármacos, segundo afirma(va)m especialistas
na formulação das políticas públicas para Saúde. Para entrar neste seleto clube
dos inventores de fármacos, precisamos, antes, inventá-los. O que não se pode
fazer por medida provisória, nem decreto! Portanto não podemos prescindir de Químicos Medicinais! Aqueles propriamente
ditos, com perfil de todas “aquelas” que
mencionei arriba!
Mãos à obra, o tempo urge: formemo-los! Para tanto
precisamos preservar os conceitos da Química
Medicinal, propriamente dita, empregá-los
adequadamente, resistir aos modismos terminológicos criados exteriormente e que
de fato nada acrescentam.
Obrigado por lerem.