Em
2014, a agência reguladora norte-americana, Food
and Drug Administration (FDA), aprovou 41 novas entidades químicas (NEQ),
i.e. foram aprovados 41 novos fármacos em 2014! Mera coincidência numerológica,
mas capaz e suficiente para comprovar a recuperação da capacidade de inovação
da Big Pharma! O nível de recuperação
foi documentado pelo Chemical Engeneering
News, veículo de divulgação da American Chemical Society, em matéria de
capa “ The year in new drugs”, assinada Lisa M. Jarvis, em seu número semanal
de 02 de fevereiro, às páginas 11-16. Há duas décadas que o número de novos
fármacos aprovados pelo FDA, em um mesmo ano, não ultrapassava as 4 dezenas. A
última vez que isso ocorreu foi em 1996, quando 53 novos fármacos foram
aprovados.
Quando fazemos um zoom nos novos fármacos aprovados pelo FDA em 2014, observamos que
17 deles representam inovações de fato, tendo novos mecanismos
farmacológicos de ação (MOA), com indicações terapêuticas diversas. Naquele
ano tivemos três biofármacos aprovados pelo FDA, que se enquadram entre anticorpos,
peptídeos e enzimas. Os agentes oncológicos predominaram, totalizando nove
(22%) das novas aprovações, destacando-se também vários medicamentos com
indicações para o tratamento de doenças órfãs, aquelas que atingem um número
restrito de pacientes, ca.200.000 pessoas .
Vale registro também, o fato de que dentre os novos
medicamentos de 2014, encontram-se quatro antibióticos. Esta classe terapêutica
vinha sendo, de certa forma, relegada pelas empresas farmacêuticas que inovam
em fármacos. Destes novos antibióticos, dois são patentes da Merck e fruto da
aquisição recente da Cubist Pharmaceuticals por ca. US$ 8,4 bilhões! Novos fármacos antivirais também foram aprovados, num total de três,
destacando-se o peramivir, RapivabR, patente da BMS, originalmente
da BioCryst, inibidor de neuraminidase com indicação para o tratamento da
influenza. Nesta área, foi aprovado ainda uma nova combinação dose fixa, administrado
por via oral, compreendendo lidipasvir e sofosbovir (HarvoniR), que representa
uma inovação incremental capaz de revolucionar o tratamento da hepatite
viral-C.
Algumas das
estruturas químicas destas inovações estão ilustradas na Figura abaixo.
Entre
os novos medicamentos aprovados em 2014, encontra-se ainda o recordista em
termos de velocidade na aprovação pelo FDA. O ceritinibe (ZykadiaR),
um derivado 2,4-pirimidinildiarilaminíco desenvolvido pela Novartis, com
indicação para o tratamento do câncer de pulmão, atuando como inibidor de
quinase ALK e IGF1R, teve seu dossiê aprovado em menos de 40 meses!
A empresa Astra-Zeneca
(AZ) liderou a corrida da inovação em 2014, com quatro novos fármacos aprovados,
sendo um em cooperação com a BMS, o dapagliflozina (FarxigaR),
inibidor de SGLT2 indicado para o tratamento da diabetes tipo-2, assim como o
empagliflozina (JardianceR), da Boheringer Ingelheim. Esta classe de
fármacos antidiabéticos já foi objeto de um post aqui. Outra inovação
importante, lançada pela AZ, foi o olaparibe (LynparzaR), inibidor
de polimerase da ADP-ribose (PARP), enzima envolvida na reparação do DNA,
indicado para tratamento de câncer de mama, ovário e próstata. Esta inovação
terapêutica também se originou em uma
empresa de alta tecnologia, KuDOS Pharmaceuticals, adquirida pela AZ. Em 2014,
cerca de 65% dos novos fármacos aprovados pelo FDA foram licenciados de outras
firmas ou resultaram de aquisições recentes. Contrariando este perfil, a
empresa Boehringer-Ingelheim teve três inovações terapêuticas, em 2014,
nascidas em seus laboratórios de pesquisa! Estes três lançamentos foram:
nintedanibe, um inibidor múltiplo de tirosinas quinases: quinase receptor do
fator de crescimento do endotélio vascular (VEGFR); quinase receptor do fator
de crescimento de fibroblastos (FGFR) e quinase receptor do fator de
crescimento derivado de plaquetas (PDGFR). Este fármaco foi inicialmente
aprovado para o tratamento de câncer, como agente anti-angiogenese ((VargatefR)
e posteriormente, numa segunda indicação, com o nome fantasia OfevR
para a fibrose pulmonar idiopática. O segundo aprovado desta emrpesa foi o
olodaterol (StriverdiR ou RespimatR), atuando como agonista
b2 seletivo de longa
duração para uso inalativo no controle da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC),
que se soma ao nintedanibe, anteriormente mencionado, totalizando suas três
aprovações.
O
campeão entre os fármacos lançados em 2014, em termos de simplicidade
estrutural foi sem sombra de dúvida o agente anti-fibrótico, com a mesma
indicação do OfevR, pirfenidona (EsbrietR), derivado
pirimidinônico com fórmula molecular C11H11NO! O
mecanismo farmacológico ainda não foi completamente elucidado, mas certamente
esta substância de estrutura química singela, atua em múltiplos receptores, que
envolvem respostas do TNF-a
e IL-1b e outros agentes
como TGFb. Os efeitos
anti-fibróticos e anti-inflamatórios deste fármaco representam atraente perfil
de efeitos terapêuticos sinérgicos que justificam sua indicação principal na
fibrose pulmonar idiopática, sendo que os especialistas antecipam que suas
vendas superarão a marca de US$ 1,5 bilhão em 2019, sendo portanto um provável
futuro blockbuster.
Obrigado por lerem!