Como já postei aqui anteriormente, o FDA aprovou em 2013, ca. 25 novas entidades químicas (NCE´s)*
i.e. novos fármacos, sendo 9 exemplos de first-in-class, que representam significativas inovações
terapêuticas. Pelo que já li, ca.
50% destas inovações – que já foram objeto de postagens anteriores aqui – podem
vir a alcançar a classificação de blockbuster
em cinco anos, ou seja atingirem vendas da ordem de US$ multi-bilhões, o que
aliado à condição de autêntica inovação terapêutica resgata esta capacidade na Big Pharma. Como nas postagens
anteriores sobre este mesmo tema – fármacos lançados em 2013 – tratei dos
aspectos mercadológicos, hoje decidi focar no riociguat, que é um novo fármaco
desenvolvido pela Bayer, para o tratamento da hipertensão pulmonar (pulmonary hypertension, PH), tanto da sua
forma crônica tromboembólitica, como da arterial. Este novo fármaco é o
primeiro da série dos ativadores da guanidilciclase solúvel (soluble guanylyl cyclase, sGC), o único
biorreceptor do óxido nítrico (NO) conhecido, sendo merecedor da classificação
de first-in-class.
A gênese do riociguat (BAY
63-2521, AdempasR) iniciou-se, em 1978, quando o primeiro derivado
sintético estimulante da sGC solúvel foi descrito. Este composto pertencia à da
classe dos derivados benzoindazólicos – vejam a figura abaixo - e levou-se aproximadamente
20 anos, para ter seu alvo terapêutico identificado e seu mecanismo farmacológico
de ação entendido, como sendo dependente de sinergia com o NO. A substância inicial
teve modesta potência vasodilatadora e vários efeitos colaterais, entretanto
sua descoberta permitiu identificar-se o padrão molecular indazólico, como um
importante fragmento farmacofórico para esta atividade, o que mais tarde viabilizou,
pela introdução de modificações moleculares posteriores e sistemáticas,
realizadas para otimizar seu perfil farmacodinâmico, a descoberta dos compostos
BAY 41-2272 e BAY 41-8543. Estes dois novos compostos protótipos, resultaram da
introdução de algumas pequenas modificações moleculares no padrão indazólico
original (em vinho na figura), promovidas pela aplicação do bioisosterismo
clássico de anéis – estratégia de modificação molecular, largamente empregada
em Química Medicinal, com sucesso. A inclusão de um átomo de nitrogênio em C-7
do sistema indazólico, modificou-o para o bioisóstero do tipo pirazolo[3,4-b]piridínico, presente em ambos precursores
do riociguat (BAY-63-2521). Modificações consecutivas visando ajustar as
propriedades de reconhecimento molecular pelo biorreceptor, monitoradas ou não
pelo emprego de técnicas auxiliares de modelagem molecular, levou à estrutura
do riociguat que possui uma subunidade estrutural funcionalizada terminal
representada pela função uretana ou N-metilcarbamato,
derivada do ácido carbâmico (NH2COOH), presente em muitos fármacos.
A figura abaixo ilustra as modificações moleculares
introduzidas nos precursores do riociguat, que viabilizaram sua identificação.
Observa-se que o fármaco final, preservou o esqueleto aromático pirazolo[3,4-b]piridina inicial, obtido pela troca
bioisostérica introduzida no sistema indazólico original, substituído por um
padrão N-ortofluorbenzila e
diaminopirimidina em C-3 do anel aromático central. A título de
curiosidade vale mencionar que o riociguat (BAY 63-2521) tem uma fórmula
molecular maior do que o seu protótipo BAY 41-2272, como em geral ocorre quando
se compara as fórmulas moleculares dos compostos protótipos e os fármacos que
originaram.
* Inovações radicais: eslicarbazepina
(AptiomR, anticonvulsivante); vortioxetina (BrintellixR,
anti-depressivo); afatinibe (GilotrifR, inibidor covalente
irreversível do receptor do fator de crescimento da epiderme (EGFR) e do receptor
da tirosina cinase1 erbB-2 (HER2); Ibrutinibe,1 ImbruvicaR
inibidor covalente seletivo da Bruton tirosina cinase (BTK); trametinibe1
(MekinistR); dabrafenib (TafinlarR); canagliflozina1
(InvokanaR) e allogliptina1 (NesinaR), ambos
para o tratamento da diabetes tipo 2; luliconazol (LuzuR); simeprevir
(OlysioR, para o vírus da hepatite C); macitentano (OpsumitR, fármaco
dual atuando como antagonista de receptores de endotelina ET1 e 2, com
indicação para o tratamento da hipertensão pulmonar arterial); ospemifeno (OsphenaR,
para a dor durante ato sexual, atuando como modulador seletivo do receptor de estrógeno
SERM); pomalidona (PomalystR, análogo da talidomida para tratamento
do mieloma múltiplo); sofosbuvir1 (SovaldiR antiviral); dimetil
fumarato1 (TecfideraR anticâncer); dolutegravir (TivicayR,
anti-HIV, atuando como inibidor de integrase).
Inovações
incrementais: combinação entre o brometo de umeclidinion e
vilanterol (Anoro-ElliptaR COPD); fluticazona e vilanteral (Breo-ElliptaR,
COPD); bazedoxifeno/conjugado com estrogenos DuaveeR, indicado para reduzir os
sintomas desconfortáveis da menopausa (Pfizer).
1 – fármacos já discutidos neste blog.
Obrigado por lerem.