Em número de
agosto do corrente da revista de divulgação da American Chemical Society (ACS),
encontrei a informação de que o Food & Drug Administration (FDA) dos
Estados Unidos aprovou em 19 de março deste ano a miltefosina (hexadecilfosfocolina,
ImpavidoR), comercializada por um consórcio farmacêutico liderado
pela empresa Paladin Labs Inc. com sede em Quebec, Canadá. Esta notícia me
chamou a atenção, visto que não são numerosas as aprovações pelos órgãos
regulatórios, de fármacos com indicações para o tratamento de doenças
negligenciadas como o é a leishmaniose. O medicamento ImpavidoR tem
indicação aprovada para o tratamento de ambas as formas da doença: visceral e
cutânea, provocada por Leishmania
donovani, L. brasiliensis, L. guyanensis e L. panamensis.
A miltefosina (nomes comerciais ImpávidoR e MiltexR) é um bom exemplo de um fármaco antigo que ganha uma nova indicação (no inglês: repurposing). Descoberta em 1980, por dois cientistas alamães, Hansjörg Eibl do Max Planck Institute for Biophysical Chemistry e Clemens Unger da University of Göttingen, como anticâncer, este composto fosfolipídico. derivado de alquilfosfocolina, mostrou-se ativo contra Leishmania, conforme descreveram Simon L. Croft e colaboradores do London School of Hygiene and Tropical Medicine, Inglaterra. Estes autores relataram que o composto foi eficaz contra as formas amastigotas de Leishmania donovani cultivadas em macrófagos peritoneais de camundongo em dose de 12,8 mg/kg/dia, por cinco dias.
A miltefosina atua no parasita ao nível da proteína quinase B (PKB), também conhecida como Akt. Esta proteína cinase é uma serina/treonina cinase que desempenha papel fundamental em diversos processos celulares, tais como apoptose, proliferação celular, na transcrição e na migração celular. Este é o primeiro (e ainda o único prescrito) medicamento oral para o tratamento da leishmaniose e sabe-se atualmente, que tem propriedades antimicrobianas de largo espectro, sendo ativo contra bactérias e fungos patogénicos, além do trematódeo humano Schistosoma mansoni e seu vetor a Biomphalaria.
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