Entramos na
décima quarta parte da Linha do Tempo da
Química Medicinal e atingimos nesta descrição cronológica, o século atual. A
figura abaixo ilustra os fármacos que elegemos para exemplificar estas
descobertas/invenções nesta primeira década deste novo século XXI, ano a ano, a
partir de 2001.
O critério
adotado para a seleção destes exemplos anuais de inovações farmacêuticas recentes
fundamentou-se na leitura cuidadosa da seção Market to Market do Annual
Reports of Medicinal Chemistry, publicado pela Divisão de Química Medicinal
da American Chemical Society, da qual
o autor é membro, onde são descritos os novos fármacos e biofármacos, de todas
as classes terapêuticas, aprovados pelo Food
and Drug Administration (FDA), agência regulatória dos EUA. Foram
selecionados, a cada ano do período indicado, os fármacos que consideramos
verdadeiramente inovadores, seja por representarem um novo mecanismo
farmacológico de ação para o tratamento de patologias que já dispomos de
medicamentos, ou pelas características estruturais originais ou, ainda, ambos,
além daqueles que poderiam ser considerados medicamentos órfãos. Evidentemente
que fosse o autor outra pessoa, as escolhas variariam um pouco. Os números em
negrito na Figura, indicam o total de fármacos descritos em cada volume do Annual Reports of Medicinal Chemistry na
seção Market to Market.
Os onze
fármacos selecionados (Figura acima) têm indicações terapêuticas variadas, indo
do tratamento do câncer (3) à dor neuropática, passando pelo sistema nervoso
central (2) e cardiovascular (2), além de indicações para controle da diabetes,
esclerose múltipla e tratamento da AIDS. Destes apenas um não foi lançado no
mercado no ano indicado, mas foi incluído pela nova indicação terapêutica
autorizada pelo FDA, no ano em que sua patente vencia no mercado
norte-americano, o maior do mundo. Trata-se da risperidona (RisperdalR)
que foi desenvolvido pela Janssen, em 1993, para tratamento da esquizofrenia e
por atuar sobre receptores dopaminérgicos e serotoninérgicos acabou sendo
classificado como um fármaco antipsicótico atípico. No ano indicado na Figura,
2003, a risperidona teve ampliada sua indicação terapêutica para o controle da
desordem bipolar e do altísmo, doenças sem muitos recursos terapêuticos. O
impacto destas novas indicações, nos motivaram a incluí-la nesta parte desta Linha do Tempo da Química Medicinal,
ilustrando uma situação menos comum da inovação farmacêutica. A risperidona e o
aripripazola (AbilifyR), lançado em 2002, pela Bristol-Myers Squibb
para tratamento de psicoses severas, representEsta am os dois fármacos
neuroativos da Figura e têm em comum o perfil de ação multialvos. O primeiro
fármaco da Figura, lançado em 2001, imatinibe (GlevecR), lançado
pela Novartis como o primeiro anti-câncer atuando por um novo mecanismo de
ação, ao nível da tirosina-quinases (TK’s) foi objeto da discussão da Parte XII desta Linha
do Tempo da Química Medicinal, onde se encontra também o erlotinibe (TarcevaR),
lançado em 2004 pela Genetech e OSI Pharmaceuticals. Este inibidor de TK atua
sobre os receptores do fator de crescimento da epiderme (EGFR) e ao nível da
JK2 e tem tido indicação principal o tratamento do câncer de pulmão e do
pâncreas. O erlotinibe tem em sua estrutura, além do padrão farmacofórico da
classe, representado pela subunidade diarilamina, a presença de uma função
relativamente pouco comum em fármacos, um alcino verdadeiro que está presente
neste composto com natureza benzílica. Incluímos na Figura o ziconotido (PrialtR),
lançado em 2005, como um exemplo de um fármaco peptídico de origem marinha que
têm como indicação o tratamento da dor neuropática, representando por estas razões
importante inovação terapêutica. Devido à sua natureza peptídica é administrado
por via intratecal. Os fármacos representantes dos anos 2006-2011, cujas
estruturas estão ilustradas na Figura abaixo, e.g. vorinostat (ZolynzaR), maraviroc (SelzentryR),
rivaroxabano (XareltoR), saxaglipina (OnglyzaR),
dabigatrano (PradaxaR) e fingolimod (GilenyaR),
representam autênticas inovações terapêuticas por atuarem através de mecanismos
farmacológicos originais ou recentemente descobertos. A história de alguns serão
discutidas nas partes subsequentes desta Linha
do Tempo da Química Medicinal.
Obrigado por ler.