Há algum tempo postei aqui as dificuldades de como se eleger temas atraentes e merecedores de serem tratados aqui e lidos por vocês. Pode parecer simples, mas de fato não é. Mesmo se considerarmos os tempos atuais, em que os especialistas dizem que com a profusão de revistas científicas novas, que surgem quase que diariamente em todas as áreas, de acesso livre e com apelos gráficos excelentes, temos cada vez menos tempo para leituras de cada vez mais, muito mais, material! Talvez o que nos esteja faltando seja o mais precioso dos bens contemporâneos: tempo!! Para otimizá-lo necessitamos de muita disciplina e é isso que entendo está em falta na nossa disciplina: a Química Medicinal!
Senão
vejamos! Identifiquei em muitas leituras disciplinadamente feitas recentemente,
o uso equivocado de termos estrangeiros modernos, completamente desapropriados
às suas finalidades conceituais, e mesmo sem definições precisas, por autores por
pura motivação marqueteira com a intensão de incluir um certo “read appeal”
a publicações medíocres, de difícil leitura rotineira. Em português,
constatamos o uso de temos equivocados em apresentações públicas e em
publicações no vernáculo. Algumas vezes com significado dúbio pelo seu emprego
por diferentes disciplinas. Neste caso considero o uso da palavra droga! Claro
que em idiomas científicos consolidados referem-se usualmente as substâncias “do
bem”, i.e. medicamentos (pharmaceuticals) e não às drogas ilícitas “do
mal”, que infelizmente existem. Entretanto, o uso comum deu a esta palavra no
nosso idioma uma conotação principal pera as últimas. Afinal neste particular
as mídias estão mais ativas por retratarem nosso cotidiano urbano e o termo aparece
em todo telejornal e em muitas outras mídias. Assim que, quando um(a) farmacologista
o emprega ele(a) está se referindo àquelas “do bem”, certamente. Entretanto, entendo
eu que não fica preciso quando não esteja se referindo a um determinado fármaco.
Creio que o melhor a fazer é adotar sempre os termos de Química Medicinal que estejam no Glossário publicado pela IUPAC (D. R. Buckle, P. W. Erhardt, C. R. Ganellin, T. Kobayashi, T. J. Perun, J. Proudfoot, J. Senn-Bilfinger, Glossary of terms used in medicinal chemistry. Part II (IUPAC Recommendations 2013), Pure Appl. Chem., Vol. 85, No. 8, pp. 1725–1758, 2013; [Link]
Neste caso, estarão respaldados pelas definições precisas construídas por especialistas experientes dos seus comitês científicos. Assim procedendo evitamos propagar “fake-scientific terms”, seja por ignorância, seja por ingenuidade e talvez ainda, por necessidades outras.
Um exemplo “clássico” dos erros mais
comuns está no emprego do termo hit ao invés de ligante! O Glossário de Química
Medicinal da IUPAC em sua segunda edição define:
71. hit - Molecule that produces reproducible activity
above a defined threshold in a biological assay and whose structural identity
has been established.
Note: This methodology
permits the identification of additional hits and new scaffolds and develops
structure–activity relationships around existing hits.
portanto
não é correto se referir a um composto que se liga a um alvo virtualmente como
um hit pois não há resultado de “binding” feito para sua validação e de fato apenas
pode ser considerado um candidato a ligante do alvo em tela.
A Figura a seguir ilustra o nível hierárquico
que devemos adotar para nos referirmos corretamente a hit, ligante, protótipo e
fármaco. O primeiro origina-se de um screening cego, inclusive virtual; o
segundo já foi avaliado por bioensaios e confirmou a sua afinidade pelo alvo
identificado no hit, em geral numa concentração inferior a 10 mM; o terceiro já passou por prova de
conceito e teve sua estrutura química otimizada (PD/PK) e seus eventuais efeitos
tóxicos drásticos precocemente avaliados (hERG), quando possível.
Obrigado por lerem.
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