O processo de
inovação em fármacos - que poderíamos denominar também de cadeia da inovação em
fármacos – observou, nos anos recentes, significativas mudanças. Estas alterações
levaram-no de um modelo linear de gestão para este tipo de inovação, que se
caracterizava por uma sequencia hierárquica de etapas, muitas vezes rigorosa, em
que as Big-Pharmas eram capazes de
dominarem em completo, tendo-o praticamente todo internalizado,
desde a identificação/eleição do alvo terapêutico. O modelo que surgiu, se caracteriza por ser muito mais
dinâmico, capaz de “juvenilizar” as principais etapas de riscos. Estas eram
tidas como sendo àquelas relativas às propriedades farmacocinéticas e tóxicas
dos novos compostos protótipos, candidatos a novos fármacos. Neste novo modelo, os
estudos destas etapas críticas são realizados o mais precocemente possível na sequencia da cadeia de inovação. A adoção deste novo modelo dinâmico,
favoreceu também a adoção da iniciativa da inovação aberta na cadeia (open innovation) de
inovação em fármacos e diversas Big Pharmas adotaram-na em suas estratégias de
gestão da inovação em fármacos.
Em 2013, talvez já
como reflexo destas inciativas, o FDA dos EUA aprovou 25 novas entidades
químicas (NCE´s), recuperando índices de aprovação ocorridos em 1993, na média
dos últimos 10 anos, sugerindo que o setor farmacêutico vem recuperando sua
capacidade de inovar em novas moléculas. Em postagem de agosto do ano passado,
tratei dos fármacos aprovados no primeiro semestre daquele ano pela agência
regulatória norte-americana e, agora, nesta, pretendo abordar os lançamentos de
fármacos, enquanto pequenas moléculas e digo isto para diferenciá-los dos biofármacos,
que são produtos biotecnológicos com outras características e não são tratados
aqui – ao longo de todo ano, com ênfase naqueles que, segundo especialistas, são
autênticos candidatos a futuros campeões em vendas, i.e. blockbusters.Dentre os novos fármacos aprovados pelo FDA no ano de 2013, estima-se que 48% tem, segundo os experts, potencial para superar o valor de US$ 1 bilhão em vendas anuais em cinco anos – i.e. 2019 - e ca. 22% serão US$ multi-bilhões em vendas mundiais, no mesmo período de tempo. Estas previsões, bastante otimistas em termos mercadológicos, sugerem que ainda temos alguns resíduos dos sintomas da época da inovação visando os blockbusters que, segundo ainda, os especialistas, atrofiaram a busca e adoção de novos modelos de gestão do conhecimento no setor farmacêutico, especialmente nas grandes empresas que descobrem/inventam novos fármacos. Dos fármacos aprovados em 2013, 30% são fármacos indicados para o tratamento de câncer, sendo um deles foi objeto de postagem anterior, seguidos de anti-diabetes e anti-lipêmicos. Também deve-se registrar que anti-virais, especialmente indicados para o tratamento da hepatite C também foram objeto de autorização, em 2013, pelo FDA. Cabe mencionar que no caso dos novos fármacos indicados para o tratamento/controle da diabetes, surgidos em 2103, estes representam verdadeiras inovações terapêuticas, pois atuam através novos mecanismos farmacológicos de ação.
Dentre os candidatos a futuros fármacos blockbuster lançados em 2013, temos o sofosbuvir (SovaldiR) um novo análogo de nucleotídeo, desenvolvido pela Gilead Sciences que atua como inibidor de DNA polimerase. Esta inovação terapêutica foi aprovado pelo FDA em dezembro de 2013. Este fármaco têm indicação para o tratamento da hepatite C crônica (HCV) e é o primeiro da série, mas já objeto de polêmica pois a empresa desenvolvedora antecipa um custo médio da ordem de US$ 84.000,00 para um tratamento de 12 semanas, o que gerou severas críticas de gestores dos sistemas públicos de saúde, organizações não-governamentais e de representantes da classe médica internacional. A este preço não me parece difícil antecipar que este fármaco alcance a condição de blockbuster ! ! ! !
Um segundo lançamento farmacêutico que os especialistas antecipam o mesmo perfil de futuro líder em vendas é o ibrutinibe (ImbruvicaR), lançado pela GSK, após aprovação pelo FDA, em agosto de 2013. Este fármaco é o primeiro com indicação para o tratamento de raros quadros de leucemia, atuando como um inibidor irreversível da Bruton tirosina-quinase (TK). A mesma GSK teve ainda aprovado em 2013, a associação do agonista b-2 de longa duração de ação, vilanterol com o corticoide fluticazona, sob o nome fantasia Breo Ellipta, com indicação para o controle da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), este não almejando, provavelmente, a condição de best-seller.
Um terceiro fármaco candidato a blockbuster, aprovado em 2013, foi o trametinibe (MekinistR), que atua como inibidor da proteína quinase-quinase ativada por mitógeno (MAPK) e de ERK-quinase (MEK1 e MEK2). Este fármaco tem a indicação terapêutica para o tratamento de melanoma metastático BRAF-mutante V600E (onde o resíduo valina-600 foi substituído por um ácido glutâmico) com uso único ou em associação combinada com o dabrafenibe (TafinlarR). Esta combinação terapêutica foi aprovada pelo FDA norte-americano em janeiro de 2104.
Um outro fármaco candidato a blockbuster lançado em 2013, desta feita pela Janssen, foi canagliflozina (InvokanaR) e já foi objeto de uma postagem aqui (em 22/05/2013). Este fármaco tem a indicação para o tratamento da diabetes tipo-2, atuando por um novo mecanismo farmacológico ao nível do co-transportador-2 de glicose dependente de sódio (SGLT2).
As estruturas químicas destas “minas de ouro” da IF estão ilustradas a seguir.
Obrigado por lerem!