Pesquisar este blog

sexta-feira, 29 de julho de 2011


Após corrigir 80 questões de 40 provas de Química Farmacêutica, as últimas deste primeiro semestre de 2011, me dei conta que nunca antes havia tido tantas para corrigir de uma mesma prova. Isto significa que nunca antes, QF tinha tido tantos alunos inscritos em um único semestre. Esta constatação me fez lembrar de como funcionava a universidade na década de 60-70, especialmente quanto ao ensino de Farmácia. Esclareço: me formei em 1971. Cabe registro que a última reforma universitária no Brasil data de 1968 quando os jovens do ocidente viviam tempos ebulicionários (revolucionários em ebulição). Nestes tempos vivíamos no Brasil os ditos “anos de chumbo” em plena ditadura militar e a tal reforma visava, principalmente (segundo aelagaram), re-organizar a hierarquia universitária, excluindo a cátedra e criando como célula mínima desta hierarquia a figura do departamento. Claro que muitos catedráticos viraram Chefes de Departamento, atuando exatamente como antes, embora com uma fachada mais liberal. Também, estavámos no período pós-68...! Embora surgissem top-down os departamentos representaram algum avanço para o sistema universitário brasileiro. Hoje entendo que são estruturas organizacionais esgotadas pelo excessivo corporativismo. Eu sou daquele tempo, quando nasciam os Departamentos. Ingressei na universidade pública do sistema federal após aprovação no vestibular, então completamente discursivo, em todas as disciplinas (se bem me lembro fiz provas de Química, Física, Botânica/Zoologia e Português, não obrigatoriamente nesta ordem), somente com provas eliminatórias, e fui aprovado em décimo lugar. Fiz a Faculdade Nacional de Farmácia e Bioquímica e teria sido Farmacêutico-Bioquímico se a denominação não tivesse sido alterada pela então recente RU que me graduou como Farmacêutico em regime seriado de quatro anos. Concluí em 14º lugar (regredi?), sem nenhuma dependência ou reprovação, embora só tenha logrado aprovação na disciplina de Parasitologia, no segundo ano, em segunda época. Fiz uma habilitação extinta pela RU, denominada “Química Terapêutica” e fomos a última turma a cursá-la. Durava todo o último ano e tinha disciplinas como Fitoquímica, Química Farmacêutica, Bromatologia, Toxicologia e Farmacodinâmica. Vale mencionar que a primeira era oferecida conjuntamente para os mestrandos do Centro de Pesquisa de Produtos Naturais (CPPN) que aliás nasceu e foi criado dentro da Faculdade de Farmácia na Praia Vermelha. Ocupava parte das dependências da antiga cátedra de Farmacognosia e da de Química Orgânica, no segundo e terceiro andares do prédio situado atrás do então Instituto de Microbiologia no campus da Praia Vermelha. Hoje a área deste prédio transformou-se em concorrido e insuficiente estacionamento, demonstrando a força que tem a “civilização do automóvel”. Nesta habilitação aprendi e apreendi muita coisa com excelentes professores (e.g. Affonso do Prado Seabra, Water B. Mors, Therezinha Tomassini, Nuno A. Pereira, Júlio Silva Araújo). Éramos 14 graduandos (se errei foi por mais-ou-menos dois) e graças aos verdadeiros mestres que tivemos como Professores, o que acredito ter sido determinante, muitos de nós, como eu mesmo, nos tornamos professores universitários, após pós-graduações diversas que nos permitiu atuarmos em pesquisa também, em diversos departamentos da própria UFRJ ou em IES de outros estados e mesmo em alguns departamentos de universidades do exterior. Nestes tempos, a carreira do magistério superior federal não tinha tempo integral nem dedicação exclusiva, sendo que para ter o regime de 40 horas semanais e consequentemente, melhor remuneração, cada docente tinha que ter seu plano de trabalho aprovado no departamento de origem e submetido à Comissão Permanente de Tempo Integral e Dedicação Exclusiva (COPERTIDE), vinculada a uma Pró-Reitoria. Como costumo dizer hoje aos meus alunos, nestes meus tempos de estudante universitário não existia xérox... e ainda assim era possível estudar! Também não tinha metrô, micro-ondas, McDonalds, computadores, mas tinha o Angu do Gomes na Praça Quinze, o cinema Rian na avenida Atlântica, o ônibus 13 e o Lamas no Largo do Machado. Os atuais CA´s eram DA´s, i.e. diretórios acadêmicos, que mudaram (perderam?) de status e de denominação na RU que não extinguiu os restaurantes universitários (RU´s). Iniciei um estágio já no segundo ano do curso de farmacêutico (1968) e atuei como monitor na disciplina de Química Orgânica Experimental. Talvez, por ter o laboratório vizinho de porta do CPPN, acabei estagiando lá, aonde terminei fazendo meu mestrado, concluído em 1973, tendo sido a primeira defesa realizada nas dependências do bloco H (segundo andar) do CCS, da UFRJ na ilha do Fundão, atual área do Instituto de Bioquímica Médica e do NPPN. Destes tempos para cá muita coisa mudou. Algumas para melhor (quantas?) e outras para pior (poucas?), mas isso já é assunto para depois.
Obrigado por ler-me.

Nenhum comentário: