As publicações científicas refletem a produtividade que se pode aferir
de pesquisadores, individuais ou por grupos de pesquisas. Está métrica de
produção, pode ter um olhar quantitativo e qualitativo. O número absoluto
determina a medida quantitativa, enquanto que o seu conteúdo, pode ser obtido qualitativamente,
pela determinação de quantos outros pesquisadores se interessaram pelo artigo,
representando o índice de impacto daquela publicação, viz-à-viz a comunidade
científica. Desta forma, cada pesquisador, autor de um artigo, pode retraçar os
caminhos feitos pelos olhares dos pares sobre sua própria produção científica.
Eu estaria faltando em franqueza, se não registrasse que é muito possível que
um autor de várias publicações científicas possa ter preferências confessas
para com algumas. Dentre as preferidas, haverá aquelas que ainda são de maior
destaque. Minha primeira publicação, de lá dos idos de 1973, na Revista
Brasileira de Farmácia, da Associação Brasileira de Farmacêuticos
(ABF), descreveu o conteúdo de uma breve revisão bibliográfica sobre a síntese
estereoespecífica de olefinas, realizada enquanto era aluno de mestrado em
Química de Produtos Naturais, do Centro de Pesquisas em Produtos Naturais
(CPPN), da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Aliás, é válido registrar que naqueles tempos, as editorias das publicações
nacionais eram bem flexíveis quanto às suas exigências, sendo possível
apresentarem-se estruturas químicas desenhadas, sem a obrigatoriedade do uso de
templates.
Dentre minhas publicações de preferência, encontram-se algumas com os
melhores índices de citações como, por exemplo, “The methylation effect in
medicinal chemistry” (Figura 1), publicada em 2011, no Chemical Reviews (111, 9, 5215-5246, 2011) da American Chemical Society (ACS), que tem nesta data ca. 616 citações,
das 16.122 acumuladas por todas minhas publicações até hoje. Este artigo
evidenciou-me a importância da citação como índice do impacto que a leitura por
pares trás para valorizar uma publicação, assim como também evidenciou-me a
relevância de quem o citou. Me explico: uma forma possível de ampliar a credibilidade
científica da publicação e representar um mecanismo efetivo para sua promoção e
ainda, por sua vez, ampliar o ciclo virtuoso que pode se criar em torno dela, é
ter sido citada por pesquisador de prestigio na área, em boa revista científica.
Por estas e outras tantas razões, esta
publicação – o efeito da metila em Química Medicinal – sempre foi uma de minhas
preferidas, mais ainda quando foi tema do seminário de abertura do Programa de
Webináios do LASSBio 2023, apresentado, brilhantemente, na tarde de 06 de
março, pelo Professor Carlos Alberto Manssour Fraga. Nesta tarde tive o
privilégio de assisti-lo, em regime remoto, testemunhando uma versão “nova” do
artigo, formatada para ilustrar sua importância ao olhar do Químico Medicinal
moderno. Neste objetivo, foi o Professor Manssour muito feliz, como o fora em
todos os outros pontos tratados no webinário, ao enfatizar, através da
bibliografia apresentada, aspectos específicos que a introdução de um
grupamento metila pode trazer a uma molécula em termos da atividade terapêutica
e de algumas de suas propriedades físico-químicas, farmacocinéticas e
farmacodinâmicas, além da possível interconversão de grupos funcionais (e..g.
ácido a éster; álcool primário a éter alquilíco, entre outros). Um aspecto
interessante que foi ressaltado naquele webinário, disse respeito ao fato de
que foi esta publicação a primeira realizada por pesquisadores fluminenses no
ACS-Chemical Reviews, outros aspectos que merecem destaque são que ca. de 30%
das citações desta publicação, tenham ocorrido em artigos do Journal of Medicinal
Chemistry e que, na maioria dos casos, nossa revisão tenha sido usada como background
para os trabalhos publicados.