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sábado, 28 de agosto de 2021

Decisões difíceis de serem tomadas....

 Nada é mais difícil e, portanto, tão preocupante, do que termos de tomar decisões difíceis. Assim mesmo, bem redundante! Inúmeras situações nos possibilitariam exemplificá-las, mas vou dar foco à decisão crucial do processo de escolher o candidato a composto-protótipo, durante o processo de descoberta de um novo fármaco. Esta decisão aparece na literatura de língua inglesa como uma simples pergunta: go-no go? A pergunta refere-se à crucial decisão de manter e progredir ou não, com determinado composto na cadeia da busca por um composto-protótipo, candidato, à frente, a novo fármaco. Esta decisão, que viabilizará o progresso do novo composto na cadeia de inovação, é a mais difícil do processo de drug discovery (DD) e, portanto, se enquadra e merece estar no post com o título que dei!

Se formos olhar para os ambientes da inovação radical farmacêutica, i.e. a invenção de novas pequenas moléculas que sejam fármacos inovadores, estaríamos nos aproximando mais do ambiente de pesquisa em drug discovery industrial, do que aquele acadêmico. De fato, em termos quantitativos isso seria verdadeiro, entretanto nos laboratórios acadêmicos, dedicados à drug discovery, embora menos numerosos, esta decisão também é crítica. Que fique claro, que embora estejamos considerando “laboratórios de pesquisa em DD”, não serão completamente comparáveis, entre si, em termos de produtividade, criatividade e força de trabalho, uns e outros, pois fatores importantes, que dependem de orçamento, do ti   po de projeto, da indicação terapêutica buscada, incluem variáveis demais para permitir uma simples comparação linear. A equipe envolvida em um projeto de DD, em laboratórios industriais, será sempre superior, quantitativamente, àquela acadêmica. Talvez não o seja em termos de criatividade, pois nesse caso a menor pressão existente nos laboratórios acadêmicos por “resultados imediatos”, favorece uma maior criatividade, assumindo maior risco de resultados negativos, antes do sucesso. Costumo dizer aos pós-graduandos que oriento, que “a terceira experiência será sempre a melhor”, ou seja. mais próxima do sucesso, pois sendo a terceira, pode-se utilizar os dois exemplos anteriores - dois insucessos, na primeira e segunda experiência feitas num determinado problema experimental – para melhor compreender como alterarmos as condições da experiência, para termos o sucesso esperado. Em condições de estresse maior, os pesquisadores industriais, tem prejudicada sua capacidade criativa.

Para melhor compreender-se o quanto a decisão go-no go é preocupante nos laboratórios de pesquisa de novos fármacos, podemos observar os esforços que as Big Pharmas fazem incluindo, em alguns casos, nominalmente a etapa de “descoberta do protótipo” (lead-discovery), onde a decisão de qual composto será o escolhido para progredir na cadeia, com menor risco de insucesso subsequente, passa pela resposta à pergunta “go-no go”. Quando toma-se a melhor decisão, encontra-se a melhor escolha e, portanto, a crucial etapa de identificar-se o composto-protótipo adequado, num projeto de pesquisa em DD, premiará toda equipe envolvida, seja acadêmica ou industrial.

Numerosas publicações, inclusive livros, são dedicadas ao tema da descoberta de compostos-protótipos (inter-alia:  Lead Generation Approaches in Drug Discovery, Z Rankovic & R Morphy, Eds., Wiley, 2010; ISBN: 978-0470-25761-6; A. B. Deore, J. R. Dhumane, H. V. Wagh, R. B. Sonawane, The Stages of Drug Discovery and Development Process, Asian Journal of Pharmaceutical Research and Development, 2019, 7, 62). Nossa experiência neste campo, originou-se no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fármacos e Medicamentos (INCT-INOFAR) que coordeno, quando estudamos dois candidatos a protótipos, com diferentes indicações terapêuticas: LASSBio-294 e LASSBio-596. Ambos compostos, por distintas razões, não tiveram respostas favoráveis à continuação dos estudos para conclusão da etapa pré-clínica e foram descontinuados e estudados apenas quanto aos aspectos acadêmicos, visando publicações. Foram objeto de duas publicações relatando momentos distintos de cada trajetória: E. J. Barreiro, Estratégia de simplificação molecular no planejamento racional de fármacos: a descoberta de novo agente cardioativo, Quim Nova 2002, 25, 1172; https://doi.org/10.1590/S0100-40422002000700018; P. R. M. Rocco, D. G. Xisto, J. D. Silva, M. F. F. M. Diniz, R. N. Almeida, M. N. Luciano, I. A. Medeiros, B. C. Cavalcanti, J. R. O. Ferreira, M. O. Moraes, L. V. Costa-Lotufo, C. O` Pessoa, T. Dalla-Costa, V. B. Cattani, E. J. Barreiro, L. M. Lima, LASSBio-596: da Descoberta aos Ensaios Pré-clínicos, Rev. Virtual Quim. 2010, 2, 10; http://dx.doi.org/10.5935/1984-6835.20100003.

Cuidem-se bem!

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