Pesquisar este blog

domingo, 24 de novembro de 2019

Reler o já lido, soa bem ao ouvido...

     Inquieto por ter passado mais tempo do que pretendia entre estas postagens, decidi que não dava mais para postergar. Então aqui vamos nós!
Sendo obrigado a ler muita literatura paralela à minha preferência, às vezes me vejo lendo coisas que não acrescentam absolutamente nada, sejam porque não tem “appeal”, sejam porque são lidas por obrigação de ofício, e não pela motivação de “saber mais”! Assim que, mais ou menos como “no jogo de volta”, releio coisas que me foram bastante prazerosas. Nesta estratégia, sou capaz de resgatar a “autoestima” da leitura científica para comigo e vice-versa. Para reduzir ao mínimo o risco de surpresas, releio leituras já bem lidas e sempre bem relidas, com novos aprendizados vindos das entrelinhas ou das consultas à bibliografia citada, ainda não consultada, ou vista apenas uma única vez. Pode ser que o tempo destas releituras, possa faltar nas novas, uma vez que sempre temos muito mais a ler do que tempo para fazer. Entretanto, me impus terminar as semanas com saldo na “boa” leitura. Foi assim que elegi dois livros – aqueles de papel que se liam antigamente – como sendo os preferidos para minhas releituras, aliás cada vez mais constantes.
     O primeiro deles é “Real World Drug Discovery – A Chemist´s Guide to Biotech and Pharmaceutical Research”, de autoria de Robert M. Rydzewski, editado pela Elsevier, em 2008. O segundo é “Triumph of the Heart – The story of Statins” de Jie J. Li, editado pela Oxford University Press, em 2009. Em comum, ambos têm temáticas relacionadas ao processo de “drug discovery”, além dos autores serem ex-diretores de pesquisa em grandes empresas farmacêuticas (Big-Pharmas). Ah, também a época em que foram publicados...!
Não saberia dizer quantas vezes já os reli. Que fique claro, não os releio do início ao fim. Leio às colheradas, partes que me interessam mais no momento, guiado pelos índices. Algumas vezes não me dirijo à literatura citada, e em outras, movido pela curiosidade, visito alguns artigos originais citados, que me detalham a maior parte do assunto em leitura. Procuro ter atenção na filiação institucional de todos os autores, pois não raramente serão lidos depois, em artigos originais, contemporâneos, quando especialistas exitosos na área. Na maioria das situações tenho sempre a impressão de ter deixado escapar algumas coisas, nas leituras anteriores. Talvez por hábito de ler as “hardcopies”, não sou adepto do Kindle, nem dos e-books. Tenho tentado bastante vencer esta resistência. Mas como sou do tempo em que livro tinha de ter cheiro, i.e. cheiro de livro novo!!!! Tanto assim que adquiri dois destes modernos instrumentos e tentado ler no tablet... acho que nunca os relerei.     
     O que tinha planejado incluir nesta postagem, eram comentários sobre a importância da releitura de temas científicos, mesmo dentro de nossa especialidade. Pois bem, relendo a parte do livro de Rydzewski que trata do bioisosterismo, me informei sobre novos exemplos uteis, que vou utilizar em meu próximo curso-curto sobre o tema na XXVI Escola de Verão de Química Farmacêutica Medicinal, que ocorrerá organizada pelo LASSBio, na semana de 27 a 31 de janeiro de 2020, no CCS da UFRJ. Aliás, as inscrições estão abertas no site.
     No segundo livro que mencionei, reli vários detalhes que Li relata sobre a história da descoberta de cada estatina, da lovastatina até a atorvastatina, o fármaco campeão em faturamento na história. De forma indireta, constatei a significativa contribuição do biosisosterismo para esta importante classe de medicamentos.  
     Não creio que pela simples leitura, uma única vez, de um texto científico, se possa ter seu completo aproveitamento. Para mim as releituras são sempre desejáveis e mais instigantes que as iniciais.
      Me convenci que o hábito, além de fazer o monge, também o aprimora em sua crença!
          Obrigado por lerem.