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sábado, 21 de setembro de 2019

Nos tempos do rato Wistar...

  
     A Química Medicinal tem observado contínua evolução, beneficiando-se dos inúmeros avanços tecnológicos. Interessante considerar-se sua transição, dos tempos do uso menos discriminado de animais de laboratório, especialmente do rato Wistar, co-autor não explícito de inúmeros papers, descrevendo inúmeras moléculas bioativas. Talvez não seja exagero, considerar-se o rato Wistar como co-inventor de diversos blockbuster ao longo das últimas décadas... En passant, lembro-me que a indometacina, descrita em 1962 pelos laboratórios MS&D [TY Shen, The discovery of indomethacin and the proliferation of NSAIDs, Seminars in Arthritis and Rheumatism, 1982, 12, 89. doi 10.1016/0049-0172(82)90004-x] somente foi descoberta porque Charles Winter e colaboradores [CA Winter, EA Risley, GW Nuss, Antiinflammatory and antipyretic activities of indomethacin, 1-(para-chlorobenzoly)-5-methoxy-2-methylindole-3-acetic acid,  J Pharmacol Exp Ther 1963, 141, 36997], desenvolveram o modelo do edema de pata de rato, induzido por carragenina, utilizando ratos Wistar!!!
     Levou-se algumas décadas para a transição dos tempos dos ratos Wistar à estratégia de desenho molecular baseados na estrutura do alvo terapêutico ou do seu ligante, as estratégias descritas pelas modernas siglas: SBDD e LBDD!! Óbvio que esta transição incorporou diversos avanços tecnológicos, alguns emprestados da Biologia Estrutural, da evolução das técnicas de difração de raios-X, dependentes da capacidade tecnológica dos equipamentos modernos, entre outros. Não houvéssemos desenvolvido habilidades de manipulação de estruturas proteicas complexas, entendendo seu papel em diversas fisiopatologias, inclusive crônicas, multifatoriais, nunca teríamos dado este salto a partir do Wistar até os dias da SBDD & LBDD!!
     Atualmente, não nos soa nem um pouco estranho, qualificar-se alguns padrões moleculares como “privileged scaffold” ou “privileged structures” com definições amplas em demasia, no meu ponto de vista! Aliás, cabe registro, a incrível “evolução” das publicações que tratam do papel dos grupos funcionais (os mais diversos) na Química Medicinal. Não são poucos os papers que descrevem a importância das hidroxilas, dos grupos nitro, do F etc... Até parece que, de repente, muitos pesquisadores “acordaram” para a importância destes registros.... e os grupos funcionais entraram no cardápio das “novidades” da Química Medicinal, embora já existissem há inúmeras  - põem inúmeras nisso - décadas, senão vejamos: inter-alia - K-D Wu et al., Acrylamide Functional Group Incorporation..., ACS Med. Chem. Lett. 2019, 10, 22; Y Pae, The Dark Side of Fluorine, ACS Med. Chem. Lett. 2019, 10, 1016; J Cramer et al., Hydroxyl Groups in Synthetic and Natural-Product-Derived Therapeutics: A Perspective on a Common Functional Group J. Med. Chem. 2019, 62, 000; DOI: 10.1021/acs.jmedchem.9b00179]...!!
      Recentemente, escrevi com dois dos meus melhores alunos de pós-graduação, Julia Galvez B. Pedreira (PPGQu, UFRJ) e Lucas S. Franco (PPGFQM< ICB-UFRJ), um paper tratando da intuição química, dos químicos medicinais, no processo de “Drug Design and Discovery”... Se quiserem conferir: Chemical Intuition in Drug Design and Discovery, Curr. Top. Med. Chem. 2019. Neste paper, fizemos uma abordagem cronológica separando “termos clássicos” dos “termos modernos” da Química Medicinal, mais ou menos como “nos tempos do rato Wistar” até SBDD & LBDD! Não esqueçam que descobria-se fármacos de grande relevância terapêutica e mercadológica “nos tempos do rato Wistar”....
     Obrigado por lerem.