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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

41 novos fármacos aprovados pelo FDA em 2014!



            Em 2014, a agência reguladora norte-americana, Food and Drug Administration (FDA), aprovou 41 novas entidades químicas (NEQ), i.e. foram aprovados 41 novos fármacos em 2014! Mera coincidência numerológica, mas capaz e suficiente para comprovar a recuperação da capacidade de inovação da Big Pharma! O nível de recuperação foi documentado pelo Chemical Engeneering News, veículo de divulgação da American Chemical Society, em matéria de capa “ The year in new drugs”, assinada Lisa M. Jarvis, em seu número semanal de 02 de fevereiro, às páginas 11-16. Há duas décadas que o número de novos fármacos aprovados pelo FDA, em um mesmo ano, não ultrapassava as 4 dezenas. A última vez que isso ocorreu foi em 1996, quando 53 novos fármacos foram aprovados.
Quando fazemos um zoom nos novos fármacos aprovados pelo FDA em 2014, observamos que 17 deles representam inovações de fato, tendo novos mecanismos farmacológicos de ação (MOA), com indicações terapêuticas diversas. Naquele ano tivemos três biofármacos aprovados pelo FDA, que se enquadram entre anticorpos, peptídeos e enzimas. Os agentes oncológicos predominaram, totalizando nove (22%) das novas aprovações, destacando-se também vários medicamentos com indicações para o tratamento de doenças órfãs, aquelas que atingem um número restrito de pacientes, ca.200.000 pessoas .
Vale registro também, o fato de que dentre os novos medicamentos de 2014, encontram-se quatro antibióticos. Esta classe terapêutica vinha sendo, de certa forma, relegada pelas empresas farmacêuticas que inovam em fármacos. Destes novos antibióticos, dois são patentes da Merck e fruto da aquisição recente da Cubist Pharmaceuticals por ca. US$ 8,4 bilhões! Novos fármacos antivirais também foram aprovados, num total de três, destacando-se o peramivir, RapivabR, patente da BMS, originalmente da BioCryst, inibidor de neuraminidase com indicação para o tratamento da influenza. Nesta área, foi aprovado ainda uma nova combinação dose fixa, administrado por via oral, compreendendo lidipasvir e sofosbovir (HarvoniR), que representa uma inovação incremental capaz de revolucionar o tratamento da hepatite viral-C.
Algumas das estruturas químicas destas inovações estão ilustradas na Figura abaixo.
 
 
           
 
            Entre os novos medicamentos aprovados em 2014, encontra-se ainda o recordista em termos de velocidade na aprovação pelo FDA. O ceritinibe (ZykadiaR), um derivado 2,4-pirimidinildiarilaminíco desenvolvido pela Novartis, com indicação para o tratamento do câncer de pulmão, atuando como inibidor de quinase ALK e IGF1R, teve seu dossiê aprovado em menos de 40 meses!
A empresa Astra-Zeneca (AZ) liderou a corrida da inovação em 2014, com quatro novos fármacos aprovados, sendo um em cooperação com a BMS, o dapagliflozina (FarxigaR), inibidor de SGLT2 indicado para o tratamento da diabetes tipo-2, assim como o empagliflozina (JardianceR), da Boheringer Ingelheim. Esta classe de fármacos antidiabéticos já foi objeto de um post aqui. Outra inovação importante, lançada pela AZ, foi o olaparibe (LynparzaR), inibidor de polimerase da ADP-ribose (PARP), enzima envolvida na reparação do DNA, indicado para tratamento de câncer de mama, ovário e próstata. Esta inovação terapêutica  também se originou em uma empresa de alta tecnologia, KuDOS Pharmaceuticals, adquirida pela AZ. Em 2014, cerca de 65% dos novos fármacos aprovados pelo FDA foram licenciados de outras firmas ou resultaram de aquisições recentes. Contrariando este perfil, a empresa Boehringer-Ingelheim teve três inovações terapêuticas, em 2014, nascidas em seus laboratórios de pesquisa! Estes três lançamentos foram: nintedanibe, um inibidor múltiplo de tirosinas quinases: quinase receptor do fator de crescimento do endotélio vascular (VEGFR); quinase receptor do fator de crescimento de fibroblastos (FGFR) e quinase receptor do fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGFR). Este fármaco foi inicialmente aprovado para o tratamento de câncer, como agente anti-angiogenese ((VargatefR) e posteriormente, numa segunda indicação, com o nome fantasia OfevR para a fibrose pulmonar idiopática. O segundo aprovado desta emrpesa foi o olodaterol (StriverdiR ou RespimatR), atuando como agonista b2 seletivo de longa duração para uso inalativo no controle da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), que se soma ao nintedanibe, anteriormente mencionado, totalizando suas três aprovações.
            O campeão entre os fármacos lançados em 2014, em termos de simplicidade estrutural foi sem sombra de dúvida o agente anti-fibrótico, com a mesma indicação do OfevR, pirfenidona (EsbrietR), derivado pirimidinônico com fórmula molecular C11H11NO! O mecanismo farmacológico ainda não foi completamente elucidado, mas certamente esta substância de estrutura química singela, atua em múltiplos receptores, que envolvem respostas do TNF-a e IL-1b e outros agentes como TGFb. Os efeitos anti-fibróticos e anti-inflamatórios deste fármaco representam atraente perfil de efeitos terapêuticos sinérgicos que justificam sua indicação principal na fibrose pulmonar idiopática, sendo que os especialistas antecipam que suas vendas superarão a marca de US$ 1,5 bilhão em 2019, sendo portanto um provável futuro blockbuster.
            Obrigado por lerem!