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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Linha do Tempo da Química Medicinal: assim nascem os fármacos (Parte XIV)


Entramos na décima quarta parte da Linha do Tempo da Química Medicinal e atingimos nesta descrição cronológica, o século atual. A figura abaixo ilustra os fármacos que elegemos para exemplificar estas descobertas/invenções nesta primeira década deste novo século XXI, ano a ano, a partir de 2001. 
            O critério adotado para a seleção destes exemplos anuais de inovações farmacêuticas recentes fundamentou-se na leitura cuidadosa da seção Market to Market do Annual Reports of Medicinal Chemistry, publicado pela Divisão de Química Medicinal da American Chemical Society, da qual o autor é membro, onde são descritos os novos fármacos e biofármacos, de todas as classes terapêuticas, aprovados pelo Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória dos EUA. Foram selecionados, a cada ano do período indicado, os fármacos que consideramos verdadeiramente inovadores, seja por representarem um novo mecanismo farmacológico de ação para o tratamento de patologias que já dispomos de medicamentos, ou pelas características estruturais originais ou, ainda, ambos, além daqueles que poderiam ser considerados medicamentos órfãos. Evidentemente que fosse o autor outra pessoa, as escolhas variariam um pouco. Os números em negrito na Figura, indicam o total de fármacos descritos em cada volume do Annual Reports of Medicinal Chemistry na seção Market to Market.
 
Os onze fármacos selecionados (Figura acima) têm indicações terapêuticas variadas, indo do tratamento do câncer (3) à dor neuropática, passando pelo sistema nervoso central (2) e cardiovascular (2), além de indicações para controle da diabetes, esclerose múltipla e tratamento da AIDS. Destes apenas um não foi lançado no mercado no ano indicado, mas foi incluído pela nova indicação terapêutica autorizada pelo FDA, no ano em que sua patente vencia no mercado norte-americano, o maior do mundo. Trata-se da risperidona (RisperdalR) que foi desenvolvido pela Janssen, em 1993, para tratamento da esquizofrenia e por atuar sobre receptores dopaminérgicos e serotoninérgicos acabou sendo classificado como um fármaco antipsicótico atípico. No ano indicado na Figura, 2003, a risperidona teve ampliada sua indicação terapêutica para o controle da desordem bipolar e do altísmo, doenças sem muitos recursos terapêuticos. O impacto destas novas indicações, nos motivaram a incluí-la nesta parte desta Linha do Tempo da Química Medicinal, ilustrando uma situação menos comum da inovação farmacêutica. A risperidona e o aripripazola (AbilifyR), lançado em 2002, pela Bristol-Myers Squibb para tratamento de psicoses severas, representEsta am os dois fármacos neuroativos da Figura e têm em comum o perfil de ação multialvos. O primeiro fármaco da Figura, lançado em 2001, imatinibe (GlevecR), lançado pela Novartis como o primeiro anti-câncer atuando por um novo mecanismo de ação, ao nível da tirosina-quinases (TK’s) foi objeto da discussão da Parte XII desta  Linha do Tempo da Química Medicinal, onde se encontra também o erlotinibe (TarcevaR), lançado em 2004 pela Genetech e OSI Pharmaceuticals. Este inibidor de TK atua sobre os receptores do fator de crescimento da epiderme (EGFR) e ao nível da JK2 e tem tido indicação principal o tratamento do câncer de pulmão e do pâncreas. O erlotinibe tem em sua estrutura, além do padrão farmacofórico da classe, representado pela subunidade diarilamina, a presença de uma função relativamente pouco comum em fármacos, um alcino verdadeiro que está presente neste composto com natureza benzílica. Incluímos na Figura o ziconotido (PrialtR), lançado em 2005, como um exemplo de um fármaco peptídico de origem marinha que têm como indicação o tratamento da dor neuropática, representando por estas razões importante inovação terapêutica. Devido à sua natureza peptídica é administrado por via intratecal. Os fármacos representantes dos anos 2006-2011, cujas estruturas estão ilustradas na Figura abaixo, e.g. vorinostat (ZolynzaR), maraviroc (SelzentryR), rivaroxabano (XareltoR), saxaglipina (OnglyzaR), dabigatrano (PradaxaR) e fingolimod (GilenyaR), representam autênticas inovações terapêuticas por atuarem através de mecanismos farmacológicos originais ou recentemente descobertos. A história de alguns serão discutidas nas partes subsequentes desta Linha do Tempo da Química Medicinal.
 
Obrigado por ler.